quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Poder e o Corpo


O que é o poder? Bem, o poder de uma maneira geral é a força externa que manipula a vontade do sujeito humano, o que implica em requerer uma atitude passiva ou ativa como resposta a este poder, a qual só pode ser dada pelo corpo.
Logo, uma vez que o fundamento de toda nossa existência é o corpo, sendo por meio dele que nos sentimos no mundo e temos vontade e experiências, toda espécie de poder age a fim de estabelecer a sua ordem sobre o corpo o que possibilita o domínio dos indivíduos e da sociedade em geral. Fato é que o poder seja ele de que espécie for, age tendo como seu fim último o corpo que é o fundamento da existência humana. Logo, ele age de um modo indireto ou direto.
No mundo, medieval o poder estava concentrado e representado na figura do rei soberano e da igreja que agiam de modo direto, ou seja, sem nenhuma mediação entre o poder e o corpo. Por isso que o corpo era exposto ao público para que todos vissem este sendo suplicado e submetido pelo poder que estava ali presente. O poder medieval não lançava mão em seu primeiro momento de nenhum instrumento preciso ou institucional para submeter o corpo, não possuía nenhuma tecnologia que fizesse a ponte entre o poder que submetia e o corpo que sofria. O sofrimento do corpo revelava o tamanho do poder que o suplicava em público. O poder estava marcado pela sua capacidade de punir, nada era escondido e o poder se expunha com toda sua violência.
Com o passar do tempo, tal ostentação de poder começa a se institucionalizar, ou seja, cria uma tecnologia que faz a ponte entre o poder e o corpo. Há uma evolução que vai do machado usado em público, passa pela carretilha e o fogo até chegar à cadeira elétrica e o botão que aciona a injeção letal já dentro de instituições disciplinares modernas como prisões e escolas, que são elas mesmas tecnologias pelas quais se manifesta o poder no mundo moderno.
Nestas instituições ditas disciplinares ou de sequestro, não mais expõe se o corpo a uma violência pública e ostentosa, suas incursões sobre o corpo são mais sutil. Elas recolhem o corpo em clausuras dentro de recintos determinados para melhor discipliná-lo para a vida e para morte.
Assim o poder na sociedade moderna se diversifica e se generaliza, não possui um centro como ocorria no mundo medieval em que toda sociedade e os indivíduos que nela viviam estavam determinados pela soberania do rei ou do papa. No mundo moderno o poder está em todas relações. Na relação de pais e filhos, de namorados, nas relações de amizades, de professor e aluno, isto é, o poder é estabelecido a partir de uma rede que não possui mais nenhum centro. Com efeito, o poder se manifesta a partir de uma rede de instituições. Família, Casamento, escola, mídia, internet, rede sociais, Estado Político, fabricas, escritórios se apresentam como instituições pelas quais o poder se manifesta.
Dentro dessas instituições o poder submete o corpo, e logo, o sujeito humano de um modo mais sutil, o qual não se publica, nem ostenta a violência como antes. Este modo dá-se o nome de poder disciplinar segundo Foucault. Sua sutileza se dá por meio do confinamento do corpo em determinados espaços. A família a casa, a escola o prédio, a fábrica o galpão. O poder disciplinar é uma tecnologia que visa submeter o corpo para educar o sujeito.  É uma tecnologia que surge com as necessidades de exploração do capitalismo primitivo que era extremamente dependem do corpo como mão de obra em suas primeiras fabricas. O corpo precisava ser produtivo, logo, para ser produtivo precisava ser disciplinado, para tanto, a escola como poder disciplinar é imprescindível.
Do poder disciplinar que submetia o corpo e educava o indivíduo, segue o Biopoder que por meio do panóptico, ou seja, do olho que tudo vê, não se atem à disciplina sujeito, mas ao controle de toda sociedade, como um controle da vida em sua totalidade. “Faça o que quiser fazer, mas diga o que está fazendo” este é o lema do Biopoder. A informação sobre a vida privada dos sujeitos implica em poder de controle sobre tais vidas. Isso explica o porquê do surgimento de redes sociais dentro do universo cibernético que se revelou como uma tecnologia incrível de domínio dos corpos, logo, das vidas dos sujeitos humano. Isso também explica a razão das ações do Facebook estarem tão valorizadas na bolsa de Nova York. Assim, deixamos de viver numa sociedade disciplinar e passamos a viver numa sociedade de controle haja vista o sucesso de programas como Big Brother em que a privacidade já não existe e tudo é publicado.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O Corpo e sua eterna juventude

Embora o corpo seja supervalorizado no mundo moderno a ponto de ser idealizado como um corpo padrão muitas vezes irreal, a nossa cultura ainda guarda resquícios de um platonismo grego que o dividia em corpo e alma, em material e intelectual, mortal e imortal. Assim, o corpo foi na antiguidade compreendido como a parte mortal da nossa subjetividade suscetível ao envelhecimento, à morte e a degeneração progressiva. Enquanto, a suposta alma seria nossa parte imortal e divina, não sujeita à morte, nem a degeneração. Com efeito, tudo que estava relacionado com o corpo, era tido como perverso e negativo, haja vista a concepção negativa que o sexo teve dentro da história, simplesmente pelo fato estar relacionado com a noção do corpo.
Com a modernidade a noção de alma foi sendo abandonada, e o que ficou foi o corpo como um fenômeno total do sujeito humano. A alma não é fenômeno uma vez que não aparece aos nossos sentidos, mas o corpo é o fenômeno mais imediato e fundamental que temos, tanto é que ele é condição fundamental da nossa existência, além de ser por meio dele que nós tomamos consciência dos fenômenos fora de nós, os quais se encontram no mundo a nossa volta.
Logo, se o nosso corpo é um fenômeno que aparece para nós e nos permite perceber o mundo, tal percepção do mundo só se dá pelo fato de que nosso corpo sente, ou seja, ele possui uma sensibilidade que é a sua capacidade fundamental. Antes pensar que temos uma alma, de ter uma personalidade o nosso corpo sente, mas não sente do mesmo modo.
 Existem basicamente dois modos de sensibilidade em nosso corpo. A sensibilidade somática pela qual temos uma relação direta com o mundo fora da nossa subjetividade, aquela que toca os nossos cincos sentidos, como ver um objeto, ouvir um som, tocar em algo, isso tudo se refere à sensibilidade somática. O outro modo de sentir é psíquico. Este modo, ao contrário do somático que implica numa sensação externa dos objetos, trata-se de uma sensação interna, não sendo imediata, mas mediada pela linguagem em geral, a qual nos permite ter sentimentos negativos e positivos, como ódio e amor, tristeza e alegria, angustia e estado de bem estar. Tudo isso ocorre no corpo não numa alma que está separada dele como o platonismo passou a compreender.
Com efeito, o corpo passou a ser compreendido como a totalidade do nosso ser, não somos seres divididos sob o ponto de vista corporal, somos um só ser. Um ser que nasce com um corpo ainda não formado e sem muita especialização, mas com uma versatilidade que difere de todos os outros animais, sendo capaz de manipular seu corpo nos mais diversos movimentos.
Do mesmo modo que temos o poder de manipular o nosso corpo, nós também manipulamos o mundo a nossa volta de modo a criar facilidades para a vida humana. Todavia, isso revela que basta você submeter o corpo a determinadas regras que você irá submetê-lo a uma determinada disciplina. Isso foi muito bem percebido pela sociedade moderna que passou a criar um mundo cuja finalidade primeira era sujeição do corpo, uma vez que assim fazendo, submeteria também o sujeito, privando este de uma liberdade.
Esta centralidade do corpo no mundo atual desembocou numa exaltação da condição puramente somática do corpo. O que vale é o que o corpo parece, não o que ele sente. O corpo tem que parecer belo, esteticamente dado dentro da regra, do padrão estabelecido, pois do contrário tal o sujeito será estigmatizado por preconceitos dos mais diversos. Logo, tal padrão se demonstrou irreal, pelo fato de fixar padrões idealizados de corpo e uma tendência de imortalização da aparência juvenil. O corpo não pode mais envelhecer ele deve parecer sempre jovem, mesmo que já se sinta velho.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Senhor Capital nosso deus


È notório perceber que o “Senhor Capital”, ou seja, o mercado se fundamenta na noção de exploração. Ele não sobrevive como sistema econômico sem arrancar recursos da natureza o que supõe a constante exploração da vida que lhe dá os recursos materiais que necessita, sem explorar o trabalho que manipula tais recursos materiais os transformando em mercadoria. Juntamente com o trabalho que era entendido como atividade concreta, agora um novo campo de exploração do capital é o trabalho intelectual. A Era do Conhecimento em que vivemos supõe que o conhecimento se tornou o elemento fundamental para produção e reprodução do capital. Sem conhecimento o sujeito humano não tem os pré-requisitos para ser explorado o que supõe a sua exclusão.

Recursos naturais, trabalho e conhecimento são atividades que o capital explora de modo positivo, no sentido em que são atividades produtivas. Contudo, o capital também explora a consciência de um modo negativo, uma vez que requer a sua inibição para o consumo, no qual o capital reverte toda a sua condição produtiva em lucro. Logo, a força do consumo está no desejo que explora a irracionalidade. O sistema não se funda mais na noção de suprir o que nos é necessário, que é racional, mas na ideia do que é desejável. Com efeito, o que é desejável é constantemente fabricado e reproduzido e anunciado como necessidade, como se a vida não pudesse seguir sem o produto que se anuncia.

Segue que o capital tem na publicidade e propaganda o seu aparelho ideológico que tem por fim fabricar desejos. Tais desejos são fabricados por meio da alienação e da produção do fetiche. A alienação por fazer o sujeito humano ver somente um ponto da realidade, não a realidade enquanto um todo, o que o torna ignorante da realidade do seu mundo e de si mesmo, de modo que não se torna capaz de diferenciar aquilo que lhe é necessário daquilo que lhe é tão somente um desejo. O fetiche por sua vez é aquilo que em muitas vezes cria a alienação, pois tende a conferir à mercadoria de consumo uma poder mágico que não possuí de fato. É uma idealização da mercadoria, ela na verdade é só um elemento concreto como outro qualquer, mas é construída como portadora de poderes que trazem a liberdade, a felicidade, o prazer, a paz, sensações psíquicas que o consumo de tais mercadoria daria aqueles que consomem.

Deste modo o capital explora tão somente a nossas condições sensíveis que são mais vulneráveis ao encantamento e a sedução do prazer, o que tende a inibir as nossas condições racionais que tendem a revelar a realidade.

Tal realidade é contraditória e irônica, pois ao mesmo tempo em que o sujeito humano cria tal sistema é explorado e submetido por ele. O criador deste ser divino que chamamos capital é o próprio sujeito humano que não se contentando  com aquilo que sacia suas necessidades se lança com ganância e ambição sobre aquilo que não é mais necessidade, mas simples desejo de expandir continuamente e acumular.

A mola que impulsiona tal desejo de acumular e expandir dentro de uma ordem de progresso é a tecnologia que inova e descarta numa velocidade vertiginosa não permitindo que os sujeitos humanos estejam satisfeitos nem por um segundo. Ademais, o seu fim é criar de modo constante e ininterrupto a insatisfação. A satisfação é o estado de felicidade, a insatisfação é estado de prazer. Assim, tal deus capital, não promete a felicidade, mas o prazer que se esvazia num instante e logo dá lugar ao nada, que por sua vez pede novo preenchimento oriundo da insatisfação. E assim seguimos de vazio em vazio, o que nos promete o um futuro doentio.

  

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Menos Filosofia e Sociologia, mais matemática e português, logo, mais massificação

por Ricardo Urizzi Carvalho

De fato, o suposto silogismo não fecha numa conclusão evidente, pois não temos nele, pelo menos de modo explícito, um termo médio, nem está absolutamente dado em sua formalidade integral como foi pressuposta por Aristóteles a mais ou menos 2361 anos atrás na Grécia Antiga. Contudo, ele deixa implícito, o medo velado ideologicamente de uma parcela da sociedade brasileira que julga ser privilégio dela a condição de pensar o curso da história do país.

Talvez, tenha mais que isso implícito, a recensão de um espírito autoritário que seja resquício da “ditadura branda” que mandou para o ostracismo do currículo, disciplinas consideradas perigosas para a suposta coesão nacional forjada arbitrariamente por esta mesma parcela da sociedade.

Ou deve-se considerar ainda, o medo mais evidente e próximo, dado ao fato dessa mesma parcela da sociedade assistir as convulsões em todo mundo na busca de uma democracia real como aquilo que se convencionou chamar de “primavera árabe”, ser desatada também aqui pelo ganho de espaço no currículo de disciplinas cuja crítica ao status quo da sociedade estejam em seu cerne.     

Esta parcela da sociedade privilegiada que tão solicitamente assume o papel de pensar o nosso país, tem o seu arauto, ou seja, o seu atalaia que sempre está pronto para sinalizar o perigo. Acerca disso é possível ser mais realista, esta “casta” tem vários arautos e atalaias que evocam sua defesa. Um desses guardiões da verdade hegemônica não deixou passar desapercebido um perigo iminente. Qual seria este perigo? O aumento da carga horária de disciplinas de conteúdos críticos no currículo do ensino médio como é o caso das disciplinas de filosofia e sociologia. 

Que a Folha de São Paulo seja um jornal reacionário, não é novidade para ninguém. Haja vista sua história recente, ou mesmo sua história passada. Mas o que foi exposto no seu editorial do dia 30/09 é de causar uma perplexidade asquerosa.

O editorial intitulado “Mais matemática” é o reflexo do medo à desmassificação das massas. O editorial critica as intenções do governo estadual de fazer cumprir uma lei federal que pressupõe o equilíbrio dentro do currículo das três áreas em que estão baseadas o ensino brasileiro: Linguagem e Códigos, Matemática e Ciências da Natureza e Ciências Humanas e suas Tecnologias. Está última em especial, sempre esteve a reboque das outras, embora fosse desde a antiguidade a mais valiosa para a humanidade.

Uma vez que, enquanto as outras são tão somente meios, as ciências humanas são aquelas que pensam os fins, enquanto que matemática e português, diga-se de passagem, sejam disciplinas que o discente tem contato desde o primeiro instante em que entra na escola, são técnicas, a filosofia e a sociologia são as disciplinas que pensam a cultura e a civilização que se forjam através de tais técnicas.

Qual seria então o medo implícito neste editorial? A possibilidade de libertar os discentes da técnica massificante que tem demonstrado a sua ineficiência até mesmo nos programas de avaliação tecnicamente arquitetados para verificar se a massificação tem sido eficiente. Massificação que os discentes acabam por resistir, não suportam mais tanta aula de matemática, uma vez que a técnica, ensina a fazer, sem ser capaz de dizer por que fazer. Peça para um professor de matemática definir o que é matemática e perceberá o embaraço. Sabe fazer cálculos, mas não sabe definir a própria disciplina de maneira conceitual.

Com isso, não se defende aqui a desqualificação de tais disciplinas ou dos profissionais, mas de enfatizar que elas em si mesmas, em suas técnicas, não são eficientes. Assim surge a necessidade de abrir espaço para as ciências humanas que podem auxiliar na grande relevância das técnicas para promover uma cultura e uma civilização mais humana e justa, bem como mais sustentável.

É notório que o referido editorial ataca justamente as disciplinas de filosofia e sociologia, e não outras que ganham também maior espaço na grade, como é o caso de química e física, bem como espanhol. Qual a razão disso? Por que perseguir justamente as disciplinas que pressupõe maior exercício crítico? Ora, não queremos ver em perigo o nosso admirável mundo velho da massificação técnica. Não se pode abrir espaço para questionamentos, quando se quer somente a reprodução. Então, mais matemática, mais técnica e menos humanidade.

Nega-se a hipótese de que alimentando a humanidade a técnica tenha uma finalidade, um porque de ser, isto é, um sentido e uma eficiência. Não para a mera reprodução, mas para a recriação de um mundo distinto em que os homens, sobretudo, aqueles defensores de mais técnica não tenham o monopólio da decisão.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sinto somente Sinto

Sinto a vida desfalecer.
O fluxo vital atenuar.
O coração bater em sacrifício.
A dor d’alma invadir.
O espírito se abater.

Sinto que já não sou capaz.
A vida em seu fluxo e refluxo vence o ego.
A vontade se afrouxa.
O agir não se realiza.
E o pensamento, ora o pensamento!
O pensamento é falaz.

Sinto que não haverá saudades.
Do mundo.
Dos homens.
De mim.
Daquilo que é mais ignóbil.
Daquilo que são só intenções de maldades.

Sinto, somente sinto.
Não quero saber o significado disso.
Mas simplesmente transitar pelo fluxo temporal,
Saboroso, da sensibilidade livre de qualquer ditame.
De qualquer sentido.




segunda-feira, 11 de abril de 2011

Filósofo do Preconceito

Por  estes dias  venho me  ocupando de um  tema,
Que  não foge de  maneira  alguma de minha consciência.
Não, não, não. Não é um tema absolutamente transcendente ou abstrato,
Com os quais geralmente me ocupo.
É o preconceito, doença  espiritual de um mundo caduco.

Que anda oculto ou escancarado,
Sustentado por verdades intocáveis de seres alienados.
Notáveis seres são estes! quão admiráveis eles são.
Vejam só, como são crentes em suas verdades
Capazes de uma elevada devoção.
Reféns de sua própria cegueira.
Eles vivem emaranhados em suas coleiras.
Ávidos são, por tudo aquilo que possa tranqüilizar o coração.

Eles vivem abraçados em seus livros,
Reduzidos ao seu fantástico mundo
Eles são implacáveis, tirânicos e perigosamente ingênuos.
Uma  ingenuidade mortal capaz de ferir.

Eles são  culturalmente condicionados, determinados, ou melhor fabricados,
Incapazes de  desvencilhar daquilo que os mantém aprisionados.
Ora! Também não há  razão para sair de  tal prisão.
Que ambição é  esta de  querer ver o mundo de um modo mais profundo?
Por que  não  tomar para si, o que  já foi dado por  todo mundo.?

Eles são amantes das aparências,
Crêem piamente que  elas  revelam toda essência.
Eles matam e morrem pelo amor que nutrem pela sua cegueira.
Por  suas  verdades são  capazes de  praticar horrores.

É verdade que  estão sempre dispostos, são até solícitos para nomear e rotular
Para  declarar o que é bom, o que belo e o que é verdadeiro.
Porém nada dispostos para ouvir um argumento.
Já que não há tempo pra isso, devem voltar logo para o seguro lar.
Pois não é muito recomendado abrir os olhos por muito tempo
Nem manter os ouvidos atentos.
Uma vez que não existe, nem pode haver outra beleza, senão a que eles vêem.
Não há outro modo de ser bom e  verdadeiro, senão aquele que eles detem.  

Diante  ao  desconhecido, perante ao que lhes confronta
Fecham-se os olhos e  tapam-se os ouvidos
Por que isso  pode  representar algum  perigo,
Pois é caso de vida ou morte acharem o caminho de volta
Para o confortável abrigo da engenhosa ignorância.

Deve caminhar de olhos fechados e ouvidos tapados
Este é o imperativo que devem todos seguir.
Nada  deve ser mudado, tudo precisa ser  reproduzido e  repetido.
Só assim a idéia exaltada assume status e adereço de verdade absolutizada.
Se a repetição é a lógica, a papagaiasse  é a prática.
Logo, nada deve ser refletido.

Eis  a conclusão que tiro
O preconceito é  aquilo que nos livra do perigo,
De olhar mais profundamente o mundo no qual se tem  vivido.
Uma proteção! Contra tudo que tende a nos arrancar da mediocridade corrente.
Tão estável e tão desejável.

È  tão  agradável a dupla  ignorância,
Nada parecido com aquela que tínhamos em nossa  doce  infância,
Que era de fato mais  valiosa do que esta que possuímos agora.
Perguntávamos sobre  tudo, éramos  curiosos por naturezas
Pois, por  incrível que pareça, de um certo modo sabíamos,
Que  nada  tínhamos ou entendíamos
Desse mundo que até  então se  experimentava.

Mas  agora,    adultos, julgamos  tudo saber.
Pensamos  tudo entender, que nem  damos conta do nosso ledo engano.
Eis a nossa  dupla ignorância.
Motivo de  toda  nossa intolerância.
Não sabemos, que nada de fato sabemos.
Oh! Quanto cruel é a  ignorância da ignorância.

Agora, tudo se tornou tão comum,
Recusamos tudo que nos possa parecer caótico.
Tudo deve ser um,
Tudo deve estar bem aparente.
Tudo deve ser prontamente acabado,
Estampado claramente revelado.
Por que senão, não conseguiremos ver.

Afinal, aonde está a raiz de todo preconceito?
Será que não está no juízo precipitado,
Na crença excessiva naquilo que simplesmente temos observado?
Talvez, também esteja no costume interiorizado de modo passivo.
O que pode  até significar algum perigo para o nosso Ser,
Mas nenhum incomodo para o  mero sobreviver.

Não, não me dê a causa, mas me  demonstre a  essência.
Será que o preconceito não seria a paralisia da consciência petrificada,
Apaixonada por uma realidade estagnada
De onde se colhe todo o conforto?
Será que o preconceito não seria a morada do ressentimento cruel,
Este instinto tão natural, que vê o outro como uma presa,
Preste a experimentar todo nosso fel?
Ou será o ódio que se materializa na incompreensão,
Ou mesmo o cômico que ridiculariza toda nossa imperfeição?

Não esperem de mim respostas, eu não as darei a ninguém.
Mesmo por que, eu não as tenho.
Somente me espanto, diante a nossa natureza de não ser nada natural.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Chamado ao Grito de Liberdade

Carlos:
Vejam só, como estamos todos felizes , a liberdade  se  vê estampada em nossas faces. Feliz povo brasileiro! Que conquistou a sua tão custosa liberdade sem derramar nenhuma gota de sangue, pela pura benevolência do bom Deus e do bom e solicito Dom Pedro, que deixou a sua tão amada terra natal e tomou a nossa causa em suas mãos, levantando um brado de Independência diante das fileiras inimigas. Sim, um brado poderoso que atemorizou a todos os inimigos lusitanos. Independência ou morte.

(sai da platéia indignada)
Olímpia:
Espere aí senhores, que loucura é esta que estou a ouvir. Quem conquistou o que? Liberdade? Ainda não acordamos de tal sono? Vejam em nossas ruas, em nossas cidades a passividade de um povo que ainda não tomou sobre os seus ombros a sua própria história, não somos capazes de lutar e nos silenciamos  diante de nossa própria miséria.

(também sai da platéia)
Ângela:
Mulher, cujo nome não sei, não venha pisotear em nossa moral. Somos um povo lutador de fato e temos enfrentado com todo brio as afrontas dos poderosos que nos tentam dominar, mesmo que estes sejam tidos como os “pais da pátria” que usam de seus cargos para usurpar do público transformando-o em privado.

Olímpia:
Você é louca? Em que país que você vive, que não é capaz de enxergar um palmo diante do nariz? E olhar com toda lucidez para farsa que foi armada naquele dia, apaziguando e sufocando os anseios de uma verdadeira liberdade, que nunca foram  de fato realizados e ainda hoje é sufocado. O Grito ainda não foi dado, ainda permanecemos pelo silêncio dominados.

(surge no palco)
Ambrósio:
De fato minha cara Ângela, a Liberdade não pode ser concedida por ninguém, ela  tem seu valor somente se for conquistada por nossos próprios esforços, por nosso próprio sangue. Ninguém pode nos fazer livres, senão a nossa própria luta.  Ninguém pode gritar independência senão o próprio povo.

Ângela:
Sim, agora compreendo melhor, não é a voz que ecoou no Ipiranga que nos deu ou nos dará a liberdade, mas é o Grito que foi silenciado, que precisa ser desatado de nossos próprios lábios, ou melhor, de nossa própria alma. Basta ao silêncio que nos fez perder os sonhos de uma liberdade efetiva! Que demos hoje o grito que ainda não foi ouvido!

Olímpia:
Sim, gritemos todos!

Um homem:
Contra os maus homens e mulheres que zombam da confiança do povo. Independência ou Morte.

Uma Mulher:
Contra o “jeitinho brasileiro” que fere a ética e enfraquece a sociedade. Independência ou Morte!

Outro Homem:
Contra a violência que consome os corpos e almas de nossos jovens  negando-lhes um futuro e uma esperança. Independência ou Morte!

Uma Jovem :
Contra a indiferença ao mundo que habitamos e a ignorância destrutiva de nossos atos. Independência ou Morte!

Olímpia:
E vocês o que estão fazendo assistindo a tudo passivamente. Gritamos todos.
Independência ou Morte! Novamente para que todos brasileiros nos ouçam. Independência ou Morte!