È notório perceber que o
“Senhor Capital”, ou seja, o mercado se fundamenta na noção de exploração. Ele
não sobrevive como sistema econômico sem arrancar recursos da natureza o que
supõe a constante exploração da vida que lhe dá os recursos materiais que
necessita, sem explorar o trabalho que manipula tais recursos materiais os
transformando em mercadoria. Juntamente com o trabalho que era entendido como atividade
concreta, agora um novo campo de exploração do capital é o trabalho
intelectual. A Era do Conhecimento em que vivemos supõe que o conhecimento se
tornou o elemento fundamental para produção e reprodução do capital. Sem
conhecimento o sujeito humano não tem os pré-requisitos para ser explorado o
que supõe a sua exclusão.
Recursos naturais, trabalho
e conhecimento são atividades que o capital explora de modo positivo, no
sentido em que são atividades produtivas. Contudo, o capital também explora a
consciência de um modo negativo, uma vez que requer a sua inibição para o
consumo, no qual o capital reverte toda a sua condição produtiva em lucro.
Logo, a força do consumo está no desejo que explora a irracionalidade. O
sistema não se funda mais na noção de suprir o que nos é necessário, que é
racional, mas na ideia do que é desejável. Com efeito, o que é desejável é
constantemente fabricado e reproduzido e anunciado como necessidade, como se a
vida não pudesse seguir sem o produto que se anuncia.
Segue que o capital tem na
publicidade e propaganda o seu aparelho ideológico que tem por fim fabricar
desejos. Tais desejos são fabricados por meio da alienação e da produção do
fetiche. A alienação por fazer o sujeito humano ver somente um ponto da
realidade, não a realidade enquanto um todo, o que o torna ignorante da
realidade do seu mundo e de si mesmo, de modo que não se torna capaz de diferenciar
aquilo que lhe é necessário daquilo que lhe é tão somente um desejo. O fetiche
por sua vez é aquilo que em muitas vezes cria a alienação, pois tende a
conferir à mercadoria de consumo uma poder mágico que não possuí de fato. É uma
idealização da mercadoria, ela na verdade é só um elemento concreto como outro
qualquer, mas é construída como portadora de poderes que trazem a liberdade, a
felicidade, o prazer, a paz, sensações psíquicas que o consumo de tais
mercadoria daria aqueles que consomem.
Deste modo o capital explora
tão somente a nossas condições sensíveis que são mais vulneráveis ao
encantamento e a sedução do prazer, o que tende a inibir as nossas condições
racionais que tendem a revelar a realidade.
Tal realidade é
contraditória e irônica, pois ao mesmo tempo em que o sujeito humano cria tal
sistema é explorado e submetido por ele. O criador deste ser divino que
chamamos capital é o próprio sujeito humano que não se contentando com aquilo que sacia suas necessidades se
lança com ganância e ambição sobre aquilo que não é mais necessidade, mas
simples desejo de expandir continuamente e acumular.
A mola que impulsiona tal
desejo de acumular e expandir dentro de uma ordem de progresso é a tecnologia
que inova e descarta numa velocidade vertiginosa não permitindo que os sujeitos
humanos estejam satisfeitos nem por um segundo. Ademais, o seu fim é criar de
modo constante e ininterrupto a insatisfação. A satisfação é o estado de
felicidade, a insatisfação é estado de prazer. Assim, tal deus capital, não
promete a felicidade, mas o prazer que se esvazia num instante e logo dá lugar
ao nada, que por sua vez pede novo preenchimento oriundo da insatisfação. E assim
seguimos de vazio em vazio, o que nos promete o um futuro doentio.
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