segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Senhor Capital nosso deus


È notório perceber que o “Senhor Capital”, ou seja, o mercado se fundamenta na noção de exploração. Ele não sobrevive como sistema econômico sem arrancar recursos da natureza o que supõe a constante exploração da vida que lhe dá os recursos materiais que necessita, sem explorar o trabalho que manipula tais recursos materiais os transformando em mercadoria. Juntamente com o trabalho que era entendido como atividade concreta, agora um novo campo de exploração do capital é o trabalho intelectual. A Era do Conhecimento em que vivemos supõe que o conhecimento se tornou o elemento fundamental para produção e reprodução do capital. Sem conhecimento o sujeito humano não tem os pré-requisitos para ser explorado o que supõe a sua exclusão.

Recursos naturais, trabalho e conhecimento são atividades que o capital explora de modo positivo, no sentido em que são atividades produtivas. Contudo, o capital também explora a consciência de um modo negativo, uma vez que requer a sua inibição para o consumo, no qual o capital reverte toda a sua condição produtiva em lucro. Logo, a força do consumo está no desejo que explora a irracionalidade. O sistema não se funda mais na noção de suprir o que nos é necessário, que é racional, mas na ideia do que é desejável. Com efeito, o que é desejável é constantemente fabricado e reproduzido e anunciado como necessidade, como se a vida não pudesse seguir sem o produto que se anuncia.

Segue que o capital tem na publicidade e propaganda o seu aparelho ideológico que tem por fim fabricar desejos. Tais desejos são fabricados por meio da alienação e da produção do fetiche. A alienação por fazer o sujeito humano ver somente um ponto da realidade, não a realidade enquanto um todo, o que o torna ignorante da realidade do seu mundo e de si mesmo, de modo que não se torna capaz de diferenciar aquilo que lhe é necessário daquilo que lhe é tão somente um desejo. O fetiche por sua vez é aquilo que em muitas vezes cria a alienação, pois tende a conferir à mercadoria de consumo uma poder mágico que não possuí de fato. É uma idealização da mercadoria, ela na verdade é só um elemento concreto como outro qualquer, mas é construída como portadora de poderes que trazem a liberdade, a felicidade, o prazer, a paz, sensações psíquicas que o consumo de tais mercadoria daria aqueles que consomem.

Deste modo o capital explora tão somente a nossas condições sensíveis que são mais vulneráveis ao encantamento e a sedução do prazer, o que tende a inibir as nossas condições racionais que tendem a revelar a realidade.

Tal realidade é contraditória e irônica, pois ao mesmo tempo em que o sujeito humano cria tal sistema é explorado e submetido por ele. O criador deste ser divino que chamamos capital é o próprio sujeito humano que não se contentando  com aquilo que sacia suas necessidades se lança com ganância e ambição sobre aquilo que não é mais necessidade, mas simples desejo de expandir continuamente e acumular.

A mola que impulsiona tal desejo de acumular e expandir dentro de uma ordem de progresso é a tecnologia que inova e descarta numa velocidade vertiginosa não permitindo que os sujeitos humanos estejam satisfeitos nem por um segundo. Ademais, o seu fim é criar de modo constante e ininterrupto a insatisfação. A satisfação é o estado de felicidade, a insatisfação é estado de prazer. Assim, tal deus capital, não promete a felicidade, mas o prazer que se esvazia num instante e logo dá lugar ao nada, que por sua vez pede novo preenchimento oriundo da insatisfação. E assim seguimos de vazio em vazio, o que nos promete o um futuro doentio.

  

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