segunda-feira, 11 de abril de 2011

Filósofo do Preconceito

Por  estes dias  venho me  ocupando de um  tema,
Que  não foge de  maneira  alguma de minha consciência.
Não, não, não. Não é um tema absolutamente transcendente ou abstrato,
Com os quais geralmente me ocupo.
É o preconceito, doença  espiritual de um mundo caduco.

Que anda oculto ou escancarado,
Sustentado por verdades intocáveis de seres alienados.
Notáveis seres são estes! quão admiráveis eles são.
Vejam só, como são crentes em suas verdades
Capazes de uma elevada devoção.
Reféns de sua própria cegueira.
Eles vivem emaranhados em suas coleiras.
Ávidos são, por tudo aquilo que possa tranqüilizar o coração.

Eles vivem abraçados em seus livros,
Reduzidos ao seu fantástico mundo
Eles são implacáveis, tirânicos e perigosamente ingênuos.
Uma  ingenuidade mortal capaz de ferir.

Eles são  culturalmente condicionados, determinados, ou melhor fabricados,
Incapazes de  desvencilhar daquilo que os mantém aprisionados.
Ora! Também não há  razão para sair de  tal prisão.
Que ambição é  esta de  querer ver o mundo de um modo mais profundo?
Por que  não  tomar para si, o que  já foi dado por  todo mundo.?

Eles são amantes das aparências,
Crêem piamente que  elas  revelam toda essência.
Eles matam e morrem pelo amor que nutrem pela sua cegueira.
Por  suas  verdades são  capazes de  praticar horrores.

É verdade que  estão sempre dispostos, são até solícitos para nomear e rotular
Para  declarar o que é bom, o que belo e o que é verdadeiro.
Porém nada dispostos para ouvir um argumento.
Já que não há tempo pra isso, devem voltar logo para o seguro lar.
Pois não é muito recomendado abrir os olhos por muito tempo
Nem manter os ouvidos atentos.
Uma vez que não existe, nem pode haver outra beleza, senão a que eles vêem.
Não há outro modo de ser bom e  verdadeiro, senão aquele que eles detem.  

Diante  ao  desconhecido, perante ao que lhes confronta
Fecham-se os olhos e  tapam-se os ouvidos
Por que isso  pode  representar algum  perigo,
Pois é caso de vida ou morte acharem o caminho de volta
Para o confortável abrigo da engenhosa ignorância.

Deve caminhar de olhos fechados e ouvidos tapados
Este é o imperativo que devem todos seguir.
Nada  deve ser mudado, tudo precisa ser  reproduzido e  repetido.
Só assim a idéia exaltada assume status e adereço de verdade absolutizada.
Se a repetição é a lógica, a papagaiasse  é a prática.
Logo, nada deve ser refletido.

Eis  a conclusão que tiro
O preconceito é  aquilo que nos livra do perigo,
De olhar mais profundamente o mundo no qual se tem  vivido.
Uma proteção! Contra tudo que tende a nos arrancar da mediocridade corrente.
Tão estável e tão desejável.

È  tão  agradável a dupla  ignorância,
Nada parecido com aquela que tínhamos em nossa  doce  infância,
Que era de fato mais  valiosa do que esta que possuímos agora.
Perguntávamos sobre  tudo, éramos  curiosos por naturezas
Pois, por  incrível que pareça, de um certo modo sabíamos,
Que  nada  tínhamos ou entendíamos
Desse mundo que até  então se  experimentava.

Mas  agora,    adultos, julgamos  tudo saber.
Pensamos  tudo entender, que nem  damos conta do nosso ledo engano.
Eis a nossa  dupla ignorância.
Motivo de  toda  nossa intolerância.
Não sabemos, que nada de fato sabemos.
Oh! Quanto cruel é a  ignorância da ignorância.

Agora, tudo se tornou tão comum,
Recusamos tudo que nos possa parecer caótico.
Tudo deve ser um,
Tudo deve estar bem aparente.
Tudo deve ser prontamente acabado,
Estampado claramente revelado.
Por que senão, não conseguiremos ver.

Afinal, aonde está a raiz de todo preconceito?
Será que não está no juízo precipitado,
Na crença excessiva naquilo que simplesmente temos observado?
Talvez, também esteja no costume interiorizado de modo passivo.
O que pode  até significar algum perigo para o nosso Ser,
Mas nenhum incomodo para o  mero sobreviver.

Não, não me dê a causa, mas me  demonstre a  essência.
Será que o preconceito não seria a paralisia da consciência petrificada,
Apaixonada por uma realidade estagnada
De onde se colhe todo o conforto?
Será que o preconceito não seria a morada do ressentimento cruel,
Este instinto tão natural, que vê o outro como uma presa,
Preste a experimentar todo nosso fel?
Ou será o ódio que se materializa na incompreensão,
Ou mesmo o cômico que ridiculariza toda nossa imperfeição?

Não esperem de mim respostas, eu não as darei a ninguém.
Mesmo por que, eu não as tenho.
Somente me espanto, diante a nossa natureza de não ser nada natural.

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