Por estes dias venho me ocupando de um tema,
Que não foge de maneira alguma de minha consciência.
Não, não, não. Não é um tema absolutamente transcendente ou abstrato,
Com os quais geralmente me ocupo.
É o preconceito, doença espiritual de um mundo caduco.
Que anda oculto ou escancarado,
Sustentado por verdades intocáveis de seres alienados.
Notáveis seres são estes! quão admiráveis eles são.
Vejam só, como são crentes em suas verdades
Capazes de uma elevada devoção.
Reféns de sua própria cegueira.
Eles vivem emaranhados em suas coleiras.
Ávidos são, por tudo aquilo que possa tranqüilizar o coração.
Eles vivem abraçados em seus livros,
Reduzidos ao seu fantástico mundo
Eles são implacáveis, tirânicos e perigosamente ingênuos.
Uma ingenuidade mortal capaz de ferir.
Eles são culturalmente condicionados, determinados, ou melhor fabricados,
Incapazes de desvencilhar daquilo que os mantém aprisionados.
Ora! Também não há razão para sair de tal prisão.
Que ambição é esta de querer ver o mundo de um modo mais profundo?
Por que não tomar para si, o que já foi dado por todo mundo.?
Eles são amantes das aparências,
Crêem piamente que elas revelam toda essência.
Eles matam e morrem pelo amor que nutrem pela sua cegueira.
Por suas verdades são capazes de praticar horrores.
É verdade que estão sempre dispostos, são até solícitos para nomear e rotular
Para declarar o que é bom, o que belo e o que é verdadeiro.
Porém nada dispostos para ouvir um argumento.
Já que não há tempo pra isso, devem voltar logo para o seguro lar.
Pois não é muito recomendado abrir os olhos por muito tempo
Nem manter os ouvidos atentos.
Uma vez que não existe, nem pode haver outra beleza, senão a que eles vêem.
Não há outro modo de ser bom e verdadeiro, senão aquele que eles detem.
Diante ao desconhecido, perante ao que lhes confronta
Fecham-se os olhos e tapam-se os ouvidos
Por que isso pode representar algum perigo,
Pois é caso de vida ou morte acharem o caminho de volta
Para o confortável abrigo da engenhosa ignorância.
Deve caminhar de olhos fechados e ouvidos tapados
Este é o imperativo que devem todos seguir.
Nada deve ser mudado, tudo precisa ser reproduzido e repetido.
Só assim a idéia exaltada assume status e adereço de verdade absolutizada.
Se a repetição é a lógica, a papagaiasse é a prática.
Logo, nada deve ser refletido.
Eis a conclusão que tiro
O preconceito é aquilo que nos livra do perigo,
De olhar mais profundamente o mundo no qual se tem vivido.
Uma proteção! Contra tudo que tende a nos arrancar da mediocridade corrente.
Tão estável e tão desejável.
È tão agradável a dupla ignorância,
Nada parecido com aquela que tínhamos em nossa doce infância,
Que era de fato mais valiosa do que esta que possuímos agora.
Perguntávamos sobre tudo, éramos curiosos por naturezas
Pois, por incrível que pareça, de um certo modo sabíamos,
Que nada tínhamos ou entendíamos
Desse mundo que até então se experimentava.
Mas agora, já adultos, julgamos tudo saber.
Pensamos tudo entender, que nem damos conta do nosso ledo engano.
Eis a nossa dupla ignorância.
Motivo de toda nossa intolerância.
Não sabemos, que nada de fato sabemos.
Oh! Quanto cruel é a ignorância da ignorância.
Agora, tudo se tornou tão comum,
Recusamos tudo que nos possa parecer caótico.
Tudo deve ser um,
Tudo deve estar bem aparente.
Tudo deve ser prontamente acabado,
Estampado claramente revelado.
Por que senão, não conseguiremos ver.
Afinal, aonde está a raiz de todo preconceito?
Será que não está no juízo precipitado,
Na crença excessiva naquilo que simplesmente temos observado?
Talvez, também esteja no costume interiorizado de modo passivo.
O que pode até significar algum perigo para o nosso Ser,
Mas nenhum incomodo para o mero sobreviver.
Não, não me dê a causa, mas me demonstre a essência.
Será que o preconceito não seria a paralisia da consciência petrificada,
Apaixonada por uma realidade estagnada
De onde se colhe todo o conforto?
Será que o preconceito não seria a morada do ressentimento cruel,
Este instinto tão natural, que vê o outro como uma presa,
Preste a experimentar todo nosso fel?
Ou será o ódio que se materializa na incompreensão,
Ou mesmo o cômico que ridiculariza toda nossa imperfeição?
Não esperem de mim respostas, eu não as darei a ninguém.
Mesmo por que, eu não as tenho.
Somente me espanto, diante a nossa natureza de não ser nada natural.