terça-feira, 12 de abril de 2011

Sinto somente Sinto

Sinto a vida desfalecer.
O fluxo vital atenuar.
O coração bater em sacrifício.
A dor d’alma invadir.
O espírito se abater.

Sinto que já não sou capaz.
A vida em seu fluxo e refluxo vence o ego.
A vontade se afrouxa.
O agir não se realiza.
E o pensamento, ora o pensamento!
O pensamento é falaz.

Sinto que não haverá saudades.
Do mundo.
Dos homens.
De mim.
Daquilo que é mais ignóbil.
Daquilo que são só intenções de maldades.

Sinto, somente sinto.
Não quero saber o significado disso.
Mas simplesmente transitar pelo fluxo temporal,
Saboroso, da sensibilidade livre de qualquer ditame.
De qualquer sentido.




segunda-feira, 11 de abril de 2011

Filósofo do Preconceito

Por  estes dias  venho me  ocupando de um  tema,
Que  não foge de  maneira  alguma de minha consciência.
Não, não, não. Não é um tema absolutamente transcendente ou abstrato,
Com os quais geralmente me ocupo.
É o preconceito, doença  espiritual de um mundo caduco.

Que anda oculto ou escancarado,
Sustentado por verdades intocáveis de seres alienados.
Notáveis seres são estes! quão admiráveis eles são.
Vejam só, como são crentes em suas verdades
Capazes de uma elevada devoção.
Reféns de sua própria cegueira.
Eles vivem emaranhados em suas coleiras.
Ávidos são, por tudo aquilo que possa tranqüilizar o coração.

Eles vivem abraçados em seus livros,
Reduzidos ao seu fantástico mundo
Eles são implacáveis, tirânicos e perigosamente ingênuos.
Uma  ingenuidade mortal capaz de ferir.

Eles são  culturalmente condicionados, determinados, ou melhor fabricados,
Incapazes de  desvencilhar daquilo que os mantém aprisionados.
Ora! Também não há  razão para sair de  tal prisão.
Que ambição é  esta de  querer ver o mundo de um modo mais profundo?
Por que  não  tomar para si, o que  já foi dado por  todo mundo.?

Eles são amantes das aparências,
Crêem piamente que  elas  revelam toda essência.
Eles matam e morrem pelo amor que nutrem pela sua cegueira.
Por  suas  verdades são  capazes de  praticar horrores.

É verdade que  estão sempre dispostos, são até solícitos para nomear e rotular
Para  declarar o que é bom, o que belo e o que é verdadeiro.
Porém nada dispostos para ouvir um argumento.
Já que não há tempo pra isso, devem voltar logo para o seguro lar.
Pois não é muito recomendado abrir os olhos por muito tempo
Nem manter os ouvidos atentos.
Uma vez que não existe, nem pode haver outra beleza, senão a que eles vêem.
Não há outro modo de ser bom e  verdadeiro, senão aquele que eles detem.  

Diante  ao  desconhecido, perante ao que lhes confronta
Fecham-se os olhos e  tapam-se os ouvidos
Por que isso  pode  representar algum  perigo,
Pois é caso de vida ou morte acharem o caminho de volta
Para o confortável abrigo da engenhosa ignorância.

Deve caminhar de olhos fechados e ouvidos tapados
Este é o imperativo que devem todos seguir.
Nada  deve ser mudado, tudo precisa ser  reproduzido e  repetido.
Só assim a idéia exaltada assume status e adereço de verdade absolutizada.
Se a repetição é a lógica, a papagaiasse  é a prática.
Logo, nada deve ser refletido.

Eis  a conclusão que tiro
O preconceito é  aquilo que nos livra do perigo,
De olhar mais profundamente o mundo no qual se tem  vivido.
Uma proteção! Contra tudo que tende a nos arrancar da mediocridade corrente.
Tão estável e tão desejável.

È  tão  agradável a dupla  ignorância,
Nada parecido com aquela que tínhamos em nossa  doce  infância,
Que era de fato mais  valiosa do que esta que possuímos agora.
Perguntávamos sobre  tudo, éramos  curiosos por naturezas
Pois, por  incrível que pareça, de um certo modo sabíamos,
Que  nada  tínhamos ou entendíamos
Desse mundo que até  então se  experimentava.

Mas  agora,    adultos, julgamos  tudo saber.
Pensamos  tudo entender, que nem  damos conta do nosso ledo engano.
Eis a nossa  dupla ignorância.
Motivo de  toda  nossa intolerância.
Não sabemos, que nada de fato sabemos.
Oh! Quanto cruel é a  ignorância da ignorância.

Agora, tudo se tornou tão comum,
Recusamos tudo que nos possa parecer caótico.
Tudo deve ser um,
Tudo deve estar bem aparente.
Tudo deve ser prontamente acabado,
Estampado claramente revelado.
Por que senão, não conseguiremos ver.

Afinal, aonde está a raiz de todo preconceito?
Será que não está no juízo precipitado,
Na crença excessiva naquilo que simplesmente temos observado?
Talvez, também esteja no costume interiorizado de modo passivo.
O que pode  até significar algum perigo para o nosso Ser,
Mas nenhum incomodo para o  mero sobreviver.

Não, não me dê a causa, mas me  demonstre a  essência.
Será que o preconceito não seria a paralisia da consciência petrificada,
Apaixonada por uma realidade estagnada
De onde se colhe todo o conforto?
Será que o preconceito não seria a morada do ressentimento cruel,
Este instinto tão natural, que vê o outro como uma presa,
Preste a experimentar todo nosso fel?
Ou será o ódio que se materializa na incompreensão,
Ou mesmo o cômico que ridiculariza toda nossa imperfeição?

Não esperem de mim respostas, eu não as darei a ninguém.
Mesmo por que, eu não as tenho.
Somente me espanto, diante a nossa natureza de não ser nada natural.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Chamado ao Grito de Liberdade

Carlos:
Vejam só, como estamos todos felizes , a liberdade  se  vê estampada em nossas faces. Feliz povo brasileiro! Que conquistou a sua tão custosa liberdade sem derramar nenhuma gota de sangue, pela pura benevolência do bom Deus e do bom e solicito Dom Pedro, que deixou a sua tão amada terra natal e tomou a nossa causa em suas mãos, levantando um brado de Independência diante das fileiras inimigas. Sim, um brado poderoso que atemorizou a todos os inimigos lusitanos. Independência ou morte.

(sai da platéia indignada)
Olímpia:
Espere aí senhores, que loucura é esta que estou a ouvir. Quem conquistou o que? Liberdade? Ainda não acordamos de tal sono? Vejam em nossas ruas, em nossas cidades a passividade de um povo que ainda não tomou sobre os seus ombros a sua própria história, não somos capazes de lutar e nos silenciamos  diante de nossa própria miséria.

(também sai da platéia)
Ângela:
Mulher, cujo nome não sei, não venha pisotear em nossa moral. Somos um povo lutador de fato e temos enfrentado com todo brio as afrontas dos poderosos que nos tentam dominar, mesmo que estes sejam tidos como os “pais da pátria” que usam de seus cargos para usurpar do público transformando-o em privado.

Olímpia:
Você é louca? Em que país que você vive, que não é capaz de enxergar um palmo diante do nariz? E olhar com toda lucidez para farsa que foi armada naquele dia, apaziguando e sufocando os anseios de uma verdadeira liberdade, que nunca foram  de fato realizados e ainda hoje é sufocado. O Grito ainda não foi dado, ainda permanecemos pelo silêncio dominados.

(surge no palco)
Ambrósio:
De fato minha cara Ângela, a Liberdade não pode ser concedida por ninguém, ela  tem seu valor somente se for conquistada por nossos próprios esforços, por nosso próprio sangue. Ninguém pode nos fazer livres, senão a nossa própria luta.  Ninguém pode gritar independência senão o próprio povo.

Ângela:
Sim, agora compreendo melhor, não é a voz que ecoou no Ipiranga que nos deu ou nos dará a liberdade, mas é o Grito que foi silenciado, que precisa ser desatado de nossos próprios lábios, ou melhor, de nossa própria alma. Basta ao silêncio que nos fez perder os sonhos de uma liberdade efetiva! Que demos hoje o grito que ainda não foi ouvido!

Olímpia:
Sim, gritemos todos!

Um homem:
Contra os maus homens e mulheres que zombam da confiança do povo. Independência ou Morte.

Uma Mulher:
Contra o “jeitinho brasileiro” que fere a ética e enfraquece a sociedade. Independência ou Morte!

Outro Homem:
Contra a violência que consome os corpos e almas de nossos jovens  negando-lhes um futuro e uma esperança. Independência ou Morte!

Uma Jovem :
Contra a indiferença ao mundo que habitamos e a ignorância destrutiva de nossos atos. Independência ou Morte!

Olímpia:
E vocês o que estão fazendo assistindo a tudo passivamente. Gritamos todos.
Independência ou Morte! Novamente para que todos brasileiros nos ouçam. Independência ou Morte!